• A linha que fecha também abre

Na parede de uma exposição dedicada ao desenho florentino do Renascimento e suas extensões ibéricas, obras da autoria ou atribuídas a Baccio Bandinelli, Luca Cambiaso, Corregio, Pontormo e Francisco Venegas, flutuando entre diferenças ou desvios de forma e de conteúdo, estabeleceriam entre elas, ainda assim, laços previsíveis. A presença, nesse conjunto, de algumas obras de Julião Sarmento vem perturbar e desequilibrar as sequências temporais, temáticas ou estilísticas que poderíamos estabelecer entre artistas pertencentes a um fundo cultural e cronológico comum.
A exposição, assim pensada, possibilita-nos a abertura de caminhos inesperados entre cada um dos elementos em jogo, a abertura de múltiplos sentidos entre o passado, o presente e o futuro. Uma vez que a relação encontrada entre esses elementos díspares não é natural nem era previsível antes de ter acontecido, apresenta-se, nesta sala do Museu Nacional de Arte Antiga, o futuro destes desenhos renascentistas ao mesmo tempo que se representa o passado dos desenhos de Julião Sarmento. Não se trata de descobrir uma genealogia mas de a inventar ou de não a considerar sequer; não se trata da fechar um círculo mas de o abrir indefinidamente.

COMISSÁRIO
João Pinharanda